segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vale do Silêncio


Andei por ali , por aquele caminho, tantas e tantas vezes.
Naquele Vale do Silêncio demasiado silencioso....

De mão dada contigo a rir e a gargalhar, lembro-me que eu ria mais que tu...
Vínhamos da escola que era depois dali, daquele silencioso caminho.
Andávamos lado a alado , eu marcava o passo contigo.

Caminhávamos tão devagar, sem pressa nenhuma de chegar a lado nenhum …
Tantas vezes por ali passei, de mão dada contigo, andava sem sequer saber porquê…

Disseste-me que tantas vezes esperavas por mim... não me lembro...

Ria-me contigo sem saber de quê.

E tão pouca coisa já me deixava ser feliz.
Lembro-me que era feliz...

Naquele
caminho, quando lá passei hoje, tentei recordar o outro nosso passeio
que nesse nosso tempo, não sabíamos que um dia iria terminar.
Passo por ali tantos anos depois.
Pensando em tanta gente que já me disse adeus.

A saudade que nessa altura eu não sabia um dia vir a ter.
Hoje ela bateu-me à porta.e eu não quis abrir...

Arrombou a minha porta, e entrou por ali dentro sem pedir licença a ninguém!

Passei hoje por ali, está igual ao que já foi.
Está igual ao que ainda é.

Ali apanhávamos folhas secas pelo caminho, ali as espezinhávamos já mortas.
As nossas folhas amareladas de Outono.

Andava contigo por ali, com as minhas galochas vermelhas, aquelas que nunca se separavam de mim :)

Ali...andei de mão dada... e há tanto tempo que não me lembrava.

Ali andámos de mãos enlaçadas...
Não havia perigo naquele caminho, naquele não...
e eu, deixei de o seguir há tanto tempo

Hoje recordei quem um dia me disse adeus, não por querer, mas por não mais poder por cá ficar.

Hoje eu sei, aprendi hoje!

Hoje sei que há quem nunca nos diga adeus, mesmo depois de desenlaçarmos as mãos
Mesmo depois dos nossos caminhos se
confundirem..
.mesmo depois de tudo
mesmo depois de te calares...
mesmo
depois de eu quase nunca te falar…

Mesmo depois de eu... tantas coisas não conseguir recordar…

tu avivas-me a memória…sem saberes...

Hoje, pisando as pedrinhas cinzentas daquele caminho, senti o mesmo
o mesmo
que senti, quando um dia as pisei contigo.

De mãos dadas, agarrando sonhos de quem era quase criança, sonhos que nem sabíamos estar a ter.

Mãos que se davam e não se largavam.
Nessa altura era assim, andávamos sempre de mãos dadas ....
E
esse enlaçar de mãos, esses beijos quase sem sabor, por não sabermos.

Pensamos esquecer no tempo
e o tempo, de repente,deixa de o ser...


Esse
descuido nos sentires, estava todo lá...
naquele caminho que fazíamos
da escola para casa, de mãos entrelaçadas ,esmagando as folhas ao
passar
e sem qualquer vento frio, que nos conseguisse travar o andar.

Seguíamos até ao fim das nossas vidas...
e seguimos, por caminhos tão diferentes...

Hoje,
passando por ali, recordei a textura e a secura das tuas mãos, senti-as
como se as tivesse agarrado naquele instante, recordei o teu olhar....

Hoje, soube que nunca tinha olhado para ti...
como hoje, eu gostaria de ter olhado
Recordo o tacto das mãos, o sabor do beijo, e um olhar que não percebia....
Recordei tudo, assim sem ninguém me avisar.


Porque a saudade bateu à minha porta, com uma mala cheia de tudo o que eu não lembrava
Só porque hoje, eu tive a certeza, que quem me amou, nunca me dirá adeus.
Passaram anos, tantas vidas que passaram por ali.


Naquele Vale do Silêncio, passaram almas diferentes que se juntavam em mãos tão carentes...

Só porque hoje, eu tive a certeza, que há tantas formas de amar!
Que o amor se perpétua no tempo, e não morre, mesmo andando por outros caminhos.

Porque hoje eu sei que se te chamar, tu vens... mesmo sem saberes...
depois de tudo o que nem me lembro, e que tu recordas tão bem.

Porque
hoje eu tive a certeza, que os namorados quase crianças que enlaçam as
mãos, mesmo sem se aperceberem, ficam unidos para sempre.

Porque hoje percebi, ao passar por ali, que o “para sempre” existe ….
e que o caminho ficou ali, parado no tempo...


Obrigada por nunca me dizeres adeus.... mesmo sem já o poderes fazer
um beijo para ti aí onde estiveres....

TMQueiroz

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